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Um dos efeitos colaterais da pandemia de que muito se fala é que, com o maior uso de dispositivos digitais, os problemas oftalmológicos agravaram-se, principalmente com as crianças em idade escolar. 

O predomínio que o ensino online passou a assumir com o confinamento reflecte-se inevitavelmente ao nível da saúde visual das crianças. Isto porque ao ensino à distancia, soma-se o recurso aos dispositivos electrónicos também para entretenimento e convívio entre os menores.

De facto, com o prolongamento da pandemia da Covid-19, as crianças em idade escolar, para não perderem «a matéria» e manter a rotina de estudos durante a quarentena, passam inúmeras horas frente a um computador. Mas até que ponto a nova prática é segura?

Segundo Rui Teixeira, Optometrista da Nacional Óptica, esta preocupação é válida, uma vez que existe, sim, uma relação entre o uso prolongado de tablets, smartphones ou mesmo computadores, e o desenvolvimento de problemas oculares, como a miopia, por exemplo. 

Fadiga do músculo ocular

A síndrome do olho seco (keratoconjunctivis sicca) é outro problema que pode surgir com a excessiva exposição ao ecrã. Por isso, se a criança sentir os olhos a picar ou a arder, ou ficar com a visão um pouco turva ou sensível à luz, é conveniente consultar um oftalmologista. 

O especialista explica que alguns destes problemas surgem devido ao esforço dos músculos do sistema ocular. «Para terem uma boa visão, as crianças, assim como os adultos, precisam de bons músculos para focar nos objectos ou nas letras que querem ver. Esses «nervos» nos jovens são mais resistentes. Mas, quando existe uma grande exposição ao ecrã, como sucede com o ensino à distância, esse músculo realiza um esforço suplementar e, devido à fadiga desse músculo, aumenta a necessidade de usar óculos», revela Rui Teixeira.

Aumento nos problemas de miopia

Segundo o perito, o elevado número de horas que os mais pequenos passam agarrados aos dispositivos tem levado ao aumento de crianças com dificuldades de visão, principalmente com miopia (falta de visão à distância), lembrando que, o olho humano foi concebido para estar permanentemente em adaptação a diferentes horizontes. O facto de permanecer por longos períodos focado numa curta ou média distância danifica a sua elasticidade. 

E, com a obrigatoriedade das aulas à distância e com o tempo de lazer passado no mundo virtual, o problema agravou-se, no último ano, também pelo aumento da exposição a fontes de luz azul, como acontece com o computador, com o tablet ou com o smartphone, que são também associados a alguns problemas de saúde ocular. 

Atenção aos sinais dados

Mas, apesar do crescimento do ensino a distância ser uma consequência da pandemia, Rui Teixeira considera necessário «ficar atento aos sinais ‘dados’ pelas crianças de que a exposição aos ecrãs está a causar-lhes problemas de visão», revelando: «os principais alertas são as queixas de dor de cabeça, vista «turva», ardor e irritação dos olhos».

Para evitar esses sintomas e prevenir o desenvolvimento de doenças oculares por esforço, o optometrista Rui Teixeira recomenda que as crianças «parem» de 30 em 30 minutos, olhem para longe durante 30 segundos e «pisquem» repetidamente para hidratarem a superfície dos olhos. Outro conselho para que as crianças possam assistir às aulas online sem prejuízos oculares seria ajustar o modo de acesso ao conteúdo. Assim, em vez de assistirem às aulas num pequeno ecrã seria recomendável a utilização de um ecrã televisivo grande, que lhes permita estarem a, pelo menos, 3 metros de distância, o que diminui o esforço realizado pelos «músculos» oculares para focar a imagem.